Depois de 12 altas seguidas, o dólar fechou em queda nesta sexta-feira (6), numa sessão marcada por volatilidade e nova intervenção do Banco Central.
A moeda norte-americana recuou 0,36%, cotada a R$ 4,6343. Na máxima do dia, no entanto, chegou a R$ 4,6710, marcando novo recorde intradia nominal (sem considerar a inflação). Na mínima, foi a R$ 4,6117. Veja mais cotações.
Na semana, o dólar acumulou alta de 3,42%. No ano, já subiu 15,57%.
Já a Bovespa fechou em forte queda, seguindo os mercados externos, e perdeu o patamar dos 100 mil pontos.
Nesta sessão, o Banco Central realizou leilão de 40 mil contratos de swaps tradicionais, vendendo o total da oferta de US$ 2 bilhões, dobrando a oferta em relação aos três leilões de até 20 mil contratos cada que aconteceram na quinta-feira.
A medida extraordinária veio depois do salto do dólar por 12 sessões seguidas, renovando sua máxima recorde para fechamento nas últimas dez.
“Há uma pressão de fora, e por isso o BC está fazendo leilão, injetando liquidez no mercado”, disse Marcos Trabbold, operador de câmbio da B&T Corretora. “Não está surtindo efeito no momento, mas pode ser que essa medida ajude a aliviar a pressão sobre o real.”
Já com o mercado fechado, o BC anunciou para segunda-feira (9) oferta de até US$ 1 bilhão em moeda à vista.
Guedes reafirma que câmbio é flutuante
Falando em evento em São Paulo na véspera, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o câmbio é flutuante e disse que o dólar pode recuar se o governo adotar as medidas corretas ao seguir na agenda de reformas para que a confiança do investidor no país seja recuperada.
“É um câmbio que flutua. Se eu fizer muita besteira, ele pode ir para esse nível (de R$ 5). Se eu fizer muita coisa certa, pode descer”, disse. “(Com a as reformas), mais rápidos são retomados os investimentos, e o dólar acalma.”
Expectativa de novo corte de juros
Segundo muitos analistas, colabora para o movimento de alta a expectativa de corte de juros no Brasil, depois que vários bancos centrais, incluindo o Federal Reserve, iniciaram movimentos de flexibilização monetária em defesa contra os riscos do coronavírus.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC se reunirá em 17 e 18 de março para deliberar sobre a taxa de juros, que está em patamar mínimo recorde de 4,25% ao ano.
A redução sucessiva da Selic a mínimas históricas tornou alguns rendimentos baseados na taxa de juros brasileira menos atraentes para o investidor estrangeiro, o que recentemente prejudicou o desempenho do real. Isso porque diminuiu ainda mais o diferencial de juros entre Brasil e outros pares emergentes, o que pode tornar o investimento no país menos atrativo para estrangeiros e gerar um fluxo de saída de dólar.
Críticas ao Banco Central
Analistas passaram a criticar a estratégia de atuação do Banco Central e o volume de dólares oferecidos nos leilões.
“O BC vem nesse discurso de que dólar alto não é problema, de prover liquidez apenas com ações pontuais, mas o movimento hoje mostra que os leilões não estão mais fazendo impacto sobre os preços. Na verdade, estão praticamente ignorando e passando por cima, o que corrobora a visão de que é um movimento especulativo”, disse ao Valor Online o diretor de Tesouraria do Santander, Luiz Masagão.
Masagão entende que, desde que voltou a colocar sobre a mesa a possibilidade de novas quedas da Selic este ano, a autoridade monetária trouxe volatilidade adicional aos mercados. “Acreditamos que o BC deveria aumentar os volumes de intervenção. A forma como isso deve ser feita [se através de um programa ou pontualmente] importa pouco. O importante é interromper essa dinâmica especulativa”, acrescentou.
Previsão de alta menor do PIB em 2020
O avanço da epidemia do novo coronavírus pelo mundo tem provocado abalos nos mercados globais e elevado as preocupações de investidores e governos sobre o impacto da propagação do vírus nas cadeias globais de suprimentos, nos lucros das empresas e na desaceleração do crescimento da economia global.
A recuperação lenta da economia e redução das projeções para a alta do PIB em 2020 também tem pesado no mercado de câmbio.
Por ora, os economistas avaliam que a economia deve crescer entre 1,5% e 2% neste ano.
Fonte: G1