Nova lei de comércio exterior dos Estados Unidos, sancionada pela Casa Branca, deve beneficiar exportadores brasileiros de calçados. Em 13 de outubro, entra em vigor a lei “Miscellaneous Tariff Bill Act of 2018”, que prevê a redução de tarifas de importação para mais de 1,6 mil produtos, dentre eles, calçados.
A lei tem vigência prevista até 31 de dezembro de 2020, mas o governo americano pode encerrar o benefício antes do prazo, se julgar necessário.
A lei reduz tarifas para 40 categorias de calçados, incluindo sintéticos, de couro, de tecidos e de segurança. As tarifas, até agora, variavam de 6% a 37,5% sobre o valor do calçado.
No caso do Brasil, 60% dos calçados exportados aos EUA serão isentos de tarifas, disse ao Valor Priscila Linck, coordenadora de Inteligência de Mercado da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). Os demais 40% tiveram as tarifas reduzidas. “Com as medidas, os calçados brasileiros chegarão ao varejo americano mais baratos. Isso pode melhorar a negociação dos fabricantes brasileiros”, disse Priscila.
A Radamés Soulmade Shoes, que exporta calçados de couro aos EUA desde 2008, espera acelerar as vendas. A empresa já previa ampliar os embarques ao mercado americano em 15% neste ano, para 25 mil pares. “Acredito que com a redução de tarifas vamos fechar mais negócios no varejo americano”, disse Maurício Ávila, gerente de exportação da Radamés. O executivo vai analisar como fica a demanda nas próximas semanas para buscar novos clientes.
A Kidy Calçados Infantis, de Birigui (SP), vai começar agora a buscar novos clientes nos EUA. “Vamos aproveitar o câmbio favorável e oferecer preços mais competitivos agora, para tentar deslanchar as vendas nos Estados Unidos, que neste ano estão estáveis”, disse Rodrigo Nunes, gerente de exportação da Kidy. A empresa produz 20 mil pares por dia e exporta em torno de 15% da produção. Os EUA são seu segundo maior mercado, atrás da Arábia Saudita.
Nos últimos dois anos, o Brasil perdeu espaço no mercado americano para calçados fabricados na Ásia, em particular na China. Em 2017, os EUA importaram 2,38 bilhões de pares de calçados, movimentando US$ 25,14 bilhões. A China respondeu por 71% dos pares e 59% do valor. O Brasil, em 2017, exportou somente 12 milhões de pares aos EUA, somando US$ 204 milhões, segundo a Associação Americana de Distribuidores e Varejistas de Calçados.
A boa notícia para os calçadistas brasileiros é que a China não se beneficiará da nova lei americana. A Casa Branca aprovou, há poucas semanas, uma nova lista de produtos chineses, no valor de US$ 200 bilhões, cuja tarifa de importação subiu para 10% e isso incluiu calçados de couro.
Nos últimos dois anos a indústria brasileira vem perdendo mercado nos EUA. De janeiro a agosto deste ano, o Brasil exportou 6 milhões de pares aos americanos, com queda de 11,6% em relação ao mesmo intervalo de 2017. Em valor, houve queda de 19,5%, para US$ 100,3 milhões. As exportações de calçados em couro aos Estados Unidos foram as que mais caíram neste ano, até agosto.
O mercado americano, até março deste ano, era o principal destino dos calçados brasileiros. A Argentina tomou o lugar. Mas calçadistas ouvidos pelo Valor dizem que as vendas aos argentinos devem cair nos próximos meses, devido a dificuldades financeiras dos importadores.
Nos primeiro oito meses deste ano, as exportações brasileiras totais de calçados caíram 10,2%, para 69 milhões de pares. Em valor, houve queda de 10,3%, para US$ 628,3 milhões.
A Bibi Calçados e a Via Uno informaram que não esperam mudanças significativas nas exportações neste momento. Procuradas, Grendene, Alpargatas e Arezzo não quiseram comentar o assunto.
Fonte: Valor